Instituto Cultiva

Prefeitura de SP ignora desigualdades sociais ao avaliar gestão das escolas públicas com foco único no desempenho do IDEB, diz pesquisa

Nova pesquisa qualitativa “IDEB em Foco – Volume 3: Escutar para compreender”, lança luz sobre a complexa realidade da gestão escolar na Rede Municipal de São Paulo, revelando que o desempenho das unidades escolares no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é determinado por fatores que vão muito além da sala de aula. O relatório, fruto de uma colaboração entre o Sinesp (Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo) e o Instituto Cultiva, ouviu vinte diretores de escolas com alta e baixa performance no índice, além de unidades que sofreram intervenção da Prefeitura de São Paulo, em maio deste ano.

A metodologia de entrevistas em profundidade buscou entender as práticas e os desafios dos gestores, destacando a subjetividade e as histórias de vida que incidem diretamente na qualidade educacional.

O estudo aponta para uma dualidade nas escolas de alto desempenho. Enquanto algumas celebram o resultado, em outras seus diretores lidam com a alta rotatividade de alunos e a vulnerabilidade socioeconômica em territórios que, por vezes, são afetados pela especulação imobiliária e outros problemas urbanos. A mudança no perfil da comunidade, com a expulsão de famílias mais vulneráveis, altera o cotidiano escolar e a percepção de sucesso.

Pressão – Um dos achados mais significativos é a sobrecarga de funções e a pressão latente sobre os diretores. Eles se veem absorvidos por demandas administrativas, como obras, finanças e manutenção, o que os impede de dedicar o tempo necessário ao acompanhamento pedagógico. “Essa exaustão leva a um sentimento de incompetência e à dificuldade em manter a sanidade mental, conforme relatos colhidos”, explica a consultora do Cultiva, Micaela Passerino, uma das responsáveis pelo levantamento..

A relação com a comunidade também se mostrou um ponto de tensão. Muitos gestores de escolas de alto IDEB percebem uma “terceirização da responsabilidade” por parte das famílias, que confundem participação democrática com “cobrança de serviço”, exigindo soluções sem se implicar nas responsabilidades educativas.

Por outro lado, nas escolas de baixo IDEB, o estudo revela um cenário de instabilidade crônica, marcado pela alta rotatividade de diretores e pela falta de continuidade nas políticas pedagógicas. O clima escolar é frequentemente degradado e a violência, tanto física quanto moral, é uma realidade que afeta o trabalho. “A pesquisa aponta que a intervenção direta da Secretaria Municipal de Educação em escolas de baixo IDEB, muitas vezes, não aborda as causas estruturais do problema”, explica a consultora.

A pesquisa  “IDEB em Foco” conclui que o IDEB, ao privilegiar o desempenho mensurável, acaba por reforçar desigualdades e ignorar a complexidade da gestão em territórios vulneráveis. O sucesso educacional, segundo as vozes dos diretores ouvidos, depende de um olhar mais humano para as trajetórias profissionais e histórias de vida, e não apenas de metas e ranqueamentos. O levantamento revela um apelo dos profissionais para que as políticas públicas considerem a escuta ativa dos gestores como um instrumento de fortalecimento democrático e de segurança para a rede municipal.

Volume 3