Por Rubinho Giaquinto
A tão aclamada miscigenação racial brasileira não resolveu o racismo no Brasil, muito pelo contrário, colocou-o num lugar difícil de resolver. Ela esquizofrenou a questão de propósito.
Neste domingo (19/07), um homem negro, trabalhador informal, foi capa da Folha de São Paulo, cuja manchete, em letras garrafais, trazia o seguinte anunciado: Racismo perpetua fosso social no Brasil, mostram pesquisas.
Os estudos indicam discriminação que vai de salário menor a disputa eleitoral, passando pela questão da estética.
Os dados nos revelam que as mulheres brancas têm vantagem salarial de 14% em relação às mulheres negras.
No caso dos homens, os brancos registram um ganho de 13% acima do recebido pelos homens negros.
A matéria da Folha de São Paulo tem um viés economicista e liberal. Ela nos induz a erro clássico. Muitos grupos caíram na armadilha. A armadilha consiste em acreditar que o capitalismo meritocratico que foi importado dos Estados Unidos vai resolver o problema. O economista Thomas Pikety fala que o Brasil é o país mais desigual do mundo. Portanto, a saída neoliberal, liberdade de mercado, só dará privilégios aos de sempre. Eles ganham a corrida antes da largada.
Precisamos entender também que a questão econômica e social é um dos elementos da discriminação, mas não só.
A democracia liberal burguesa muito espertamente criou uma maneira de eliminar a dialética nas lutas raciais brasileiras e nas opressões históricas. Aprisionando esses setores oprimidos num só lugar.
Há uma questão cultural hegemônica branca que está no inconsciente coletivo. Que passa do vestuário, o modo de falar, de andar e até textura cabelo. Talvez aí esteja o imbróglio que pouca gente entende.
O racismo ultrapassa a questão social em larga escala. Não basta você ser rico ou miscigenado. Caímos nessa armadilha por séculos.
Por isso, é preciso fazer uma disputa hegemônica cultural e política em todos os campos. E muita política de reparação, principalmente, na educação e no mundo do trabalho.
É preciso entender o porquê do genocídio da juventude negra nas periferias.
Só assim você entenderá que a miscigenação não resolveu o racismo.
Quantos médicos negros você conhece?
Rubinho Giaquinto é Analista Socioeducacional do Instituto Cultiva
Rubinho,seu texto é muito verdadeiro e nos mostra como temos uma dívida enorme com os negros.Penso que já passou da hora de mudar ! Parabéns !
É angustiante saber de tudo isso e mais angustiante saber que muita luta ainda terá que ser combatida, para eliminarmos esse abismo entre classes, pessoas e cores.
Texto tão verdadeiro !