O IV Seminário Nacional de Educação Integral: Sustentar e ampliar o direito à educação integral no Brasil, ocorreu nos dias 3, 4 e 5 de novembro na UFRGS, Porto Alegre – RS. Participar do evento foi como revisitar a própria história da educação pública brasileira, uma história de sonhos, disputas e resistências. Nas mesas e falas, emergiu a força de um projeto que, mais do que um modelo pedagógico, é uma visão de mundo: a de que educar integralmente é cuidar, acolher, ensinar e emancipar.
Ao revisitarmos a história dos 40 anos dos CIEPs, recuperamos a ousadia de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer em materializar um ideal de escola pública que articulasse o conhecimento, a cultura e a vida comunitária. A educação integral nasceu com o pé fincado no território: com reuniões diárias de professores, conselhos escola-comunidade e prédios concebidos para o convívio e o aprendizado em tempo integral. Um projeto que vê a escola como “rede de apoio” para os alunos e como espaço de construção coletiva, uma ideia que segue urgente em tempos de fragmentação e desigualdade.
Relembramos o legado dos materiais didático, pela Fundação Darcy Ribeiro, criados para “alargar a visão de mundo dos professores”, reafirmando que a formação docente é eixo central de qualquer projeto emancipador. Sem esquecer como, historicamente, foram as políticas de comunicação e cultura que se entrelaçaram com as de educação, evidenciando como o golpe de 1964 interrompeu um processo de democratização do conhecimento e da cultura popular — uma ferida ainda aberta.
Mesmo assim, tivemos avanços significativos, entre 2022 e 2024, 1,7 milhão de matrículas em tempo integral foram criadas e mais de 90% das redes públicas brasileiras já instituíram políticas nessa direção. Os desafios continuam, especialmente no que diz respeito à gestão democrática, à formação continuada e à articulação intersetorial. É preciso fortalecer o papel da escola e do sistema de ensino na promoção da equidade, com ações que integrem assistência social, saúde e cultura.
Nesse contexto, o território aparece como categoria central. Não há educação integral sem compreender as tramas locais — as vulnerabilidades, as potências e as formas de saber que emergem de cada comunidade. A interseccionalidade, nesse sentido, é o que permite enxergar como gênero, raça, classe e território se cruzam nas condições concretas de ensino e aprendizagem. Sustentar a educação integral é, portanto, sustentar o direito à dignidade humana, que se expressa no cuidado com o outro, na escuta, na convivência e na possibilidade de cada sujeito se reconhecer como parte ativa da vida pública.
Desses dias que dividimos, fica um grande lembrete: a educação integral é mais que aumentar o tempo da escola — é transformar o espaço escolar em cultura, cidadania e sabedoria. O seminário reafirmou que educar integralmente é um ato político e afetivo, e que a luta por essa educação é coletiva e é também a luta por um país mais justo, plural e solidário.
