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Eleições na Argentina: Uma derrota acachapante para o Governo Milei, segundo Mariano Saravia e Corina Echeverria

Após a derrota: Javier Milei e sua irmâ, Karina Milei, que arrastou a família e a Presidência para o centro de denúncias de casos de corrupção com recursos públicos (Foto: Gentileza)

São Paulo, 08 de setembro – As eleições recentes na Argentina resultaram em um triunfo total do peronismo sobre o governo do presidente Javier Milei, conforme análises do jornalista Mariano Saravia e da professora da Universidad Nacional de Córdoba, Corina Echeverria, encaminhadas ao Instituto Cultiva, nesta segunda feira. Com uma vitória de 13 pontos percentuais (47% contra 34%) e uma participação eleitoral de 63%, o resultado surpreendeu as expectativas de menor participação e uma vitória mais apertada.

Saravia destaca que o peronismo não apenas consolidou sua força em bairros populares e zonas industriais, mas também conquistou setores da classe média, média-alta e áreas rurais da província de Buenos Aires, tradicionalmente avessas ao movimento. “Foi surpreendente porque o peronismo ganhou não somente nos bairros populares, nas zonas industriais, onde o peronismo sempre foi forte, no sul da cidade de Buenos Aires, mas também em setores de classe média, média alta, setores da província de Buenos Aires, rurais, agrícolas, que normalmente votam contra o peronismo”, afirma o jornalista.

A derrota de Milei é atribuída a múltiplos fatores, com a crise econômica no centro das preocupações. “O povo está mal, o trabalho está diminuindo, a produção está muito ruim, em um ano e meio fecharam mais de 30.000 PMEs”, ressalta Saravia. A queda do mercado interno, o sofrimento das classes mais baixas com a fome e a percepção de corrupção no governo Milei, que prometia combater a “casta política”, também foram decisivos. “Eles que diziam que vieram de fora da política para lutar contra a corrupção e a casta política mostraram que são os mais corruptos”, pontua.

Além disso, a “nacionalização” da eleição pelo próprio Milei, transformando-a em um plebiscito sobre seu governo, e o “insulto permanente, do grito permanente, do bullying contra os aposentados, os velhos, os idosos, os doentes, as pessoas com deficiências, os mais vulneráveis” contribuíram para o descontentamento popular. Em contraste, o governador Kicillof, “o grande ganhador de ontem”, demonstrou uma gestão focada em educação, saúde e um estado presente.

Para Saravia, a situação é “muito perigosa para o governo” de Milei, que “não tem mais crédito” com o Fundo Monetário Internacional, com o governo Trump e nem mesmo crédito político. Embora Milei tenha aceitado a derrota, sua insistência em não modificar o rumo econômico é vista como “suicida diretamente”. Os próximos dias serão “cruciais para saber como isso continua”, conclui o jornalista, enfatizando que o resultado foi “uma mensagem muito, muito clara da população contra um governo cruel, totalmente ruim, que não mostra nada, nada de positivo em um ano e meio.” 

Cenário político – Para a professora Corina Echeverria, da Universidad Nacional de Córdoba, Argentina, a eleição de ontem foi provincial e que a vitória do peronismo, especificamente do peronismo kirchnerista, foi uma grande vitória do governador Kicillof com apoio dos prefeitos.

Ela enfatiza que a tentativa do governo de Milei de desqualificar a vitória, alegando que o peronismo tinha o “aparelho” para articular as pessoas, não se sustenta, pois os próprios prefeitos saíram para pleitear a eleição.

Echeverria ressalta a capacidade do peronismo de se unir em momentos decisivos, uma identidade que atravessa meio do século. “Todas as outras identidades partidárias estão falidas”, afirma.

Para ela, o resultado das eleições significaram “uma tapa na cara para o governo nacional”, que se baseia muito na política de redes e mídias alternativas, mas que agora enfrenta o problema da corrupção em suas próprias fileiras. “Esse governo tem que se repensar e não sei o que irá acontecer hoje com os mercados. O governo não tem mais dinheiro”, alerta.

Ela menciona que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tem apoiado o governo para manter o mercado, mas que em outubro depois das eleições gerais esse cenário pode mudar. “Não vai ter mais como segurar a bomba de economia, porque aqui está tudo fechando, tudo fechando”, alerta.

“A revelação da corrupção na área da assistência social, saúde e educação, somada à queda desses serviços nas províncias, tem fortalecido os governos locais e, principalmente, os governadores peronistas”, analisa.

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