Um modelo que ignora as características da educação brasileira e favorece ao abismo social. Esse é o resumo, segundo especialistas, do Novo Ensino Médio proposto inicialmente pelo Governo Lula.
Esse foi o tema de debate promovido pelo Sinpro-JF (Sindicato dos Professores de Juiz de Fora), agora há pouco, na cidade da Zona da Mata Mineira.
“O Novo Ensino Médio se baseia, do ponto de vista teórico, em dois princípios: ensino modular, de inspiração anglo-saxônica, inglesa, em que o aluno de EM escolhe qual disciplina deseja; e em segundo lugar a ideia de que o EM tem que focar na formação para o mercado de trabalho”, afirma Rudá Ricci, um dos palestrantes.
“Esses dois objetivos não são, nem de longe, alcançados”, complementa o coordenador nacional da Articulação Brasileiro do Pacto Educativo Global (ABPEG), liderado mundialmente pelo Papa Francisco, e presidente da Cultiva.
Segundo o estudioso, os itinerários formativos, que é o nome que se deu na reforma do Novo EM para grupos curriculares, não são implementados por toda a rede de educação no país.
“Então, essa tal profusão de disciplinas para o aluno escolher não é verdade: a Folha de S.Paulo publicou uma reportagem recentemente mostrando que tem até sorteio no município e imposição de disciplina porque não existe professor qualificado”, aponta Ricci.
“Mais uma vez, os filhos da classe trabalhadora terão alijados os direitos que os permitam alçar voos maiores e os filhos da classe média continuarão tendo a formação porque terão investimento e estrutura para executar o que a reforma prevê”, diz a diretora do Sinpro-JF, Dina Pereira.
E o mercado de trabalho?
“Educação forma, mas não gera emprego. É uma grande falácia dizer que, se eu tiver mais instrução, terei emprego e salário garantido”, crava Rudá Ricci.
Segundo o ex-consultor da ONU, 25{474dc4dc5abd621ff9a24160bb13ebf14d29cbfdc3d9009c272cae044008cb96} dos doutores do Brasil estão desempregados, sendo que a média mundial é de 2{474dc4dc5abd621ff9a24160bb13ebf14d29cbfdc3d9009c272cae044008cb96}. “Isso porque o Brasil é produtor de commodities: não adianta formar um monte de doutor que não tem mercado para contratar”, sustenta.
“Temos que mudar a estrutura do mercado de trabalho para contratar gente qualificada. Colher laranja, extrair minério de ferro não precisa de grande qualificação: só o pessoal do escritório ou de um setor da indústria que é contratado, mas é muito pouco frente à maioria das contratações em países que produzem commodities”, complementa.
“É preciso revogar a reforma do EM, entendemos que tira dos filhos da classe trabalhadora o direito de ter a perspectiva de, se desejarem, ir para universidade. Não estamos falando que todos devem seguir carreira acadêmica, mas todos que desejarem devem ter direito”, reforça Dina Pereira.
“Em resumo, o Novo Ensino Médio fere o direito universal de educação porque a reforma traz os itinerários formativos, que poderiam ser interessantes, mas a gente sabe que o arcabouço financeiro não funciona”, finaliza a diretora do Sinpro-JF.
Também participou da mesa Tiago Fávero, doutor em Política Públicas e Formação Humana pela UERJ. Para participar do debate, o Sinpro-JF convocou a categoria de professores, mas também estudantes, diretórios acadêmicos, DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFJF e outros movimentos da juventude.
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