Belo Horizonte, 12 de setembro – O mês de setembro é globalmente reconhecido como o Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização e prevenção ao suicídio que busca trazer à tona a importância da saúde mental e do acolhimento. No Brasil, essa mobilização ganha força a cada ano, incentivando o diálogo aberto sobre temas que ainda são tabus, como a depressão, a ansiedade e outras condições que afetam o bem-estar psicológico. Em um cenário onde a saúde mental da população, especialmente de crianças e adolescentes, tem sido cada vez mais impactada por fatores sociais e econômicos, iniciativas como o programa Comunidades Educadoras, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Educação, do Esporte e do Lazer do Rio Grande do Norte (SEEC/RN) em parceria com o Instituto Cultiva, oferecem um panorama valioso sobre como a escola pode atuar como um espaço de proteção e cuidado.
Conscientização e Prevenção
O Setembro Amarelo, iniciado no Brasil em 2015, tem como principal objetivo alertar a sociedade sobre a realidade do suicídio e a necessidade de prevenção. A campanha promove a quebra do silêncio, incentivando as pessoas a falarem sobre seus sentimentos e a buscarem ajuda profissional. A cada ano, diversas entidades, órgãos governamentais e a sociedade civil se unem para disseminar informações, promover debates e oferecer suporte a quem precisa. A mensagem central é clara: “Se precisar, peça ajuda”.
A relevância do Setembro Amarelo se acentua ao considerarmos os dados alarmantes sobre saúde mental em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o suicídio é uma das principais causas de morte entre jovens, e a pandemia de COVID-19 agravou ainda mais esse cenário, expondo fragilidades e aumentando os casos de transtornos mentais. Nesse contexto, a escola, como um dos principais espaços de socialização e desenvolvimento de crianças e adolescentes, desempenha um papel fundamental na identificação de sinais de sofrimento e na promoção de um ambiente acolhedor.
Saúde Mental no Programa Comunidades Educadoras
O “Relatório Analítico Final de Avaliação de Impacto” do programa Comunidades Educadoras, sob a responsabilidade da consultora socioeducacional do Instituto Cultiva, Nayraline Barbosa analisa a experiência em cinco municípios do Rio Grande do Norte e revela que a saúde mental é um dos maiores desafios enfrentados pelas comunidades atendidas. A escassez de profissionais e de serviços especializados limita a atuação da rede de proteção e afeta diretamente a permanência dos estudantes na escola. “A saúde mental é um dos maiores gargalos enfrentados pelos municípios e é uma demanda recorrente nos casos acompanhados”, explica.
No entanto, o programa também demonstra como a abordagem integrada e humanizada pode gerar impactos positivos na saúde mental de estudantes, famílias e até mesmo dos profissionais envolvidos. A metodologia do Comunidades Educadoras, que privilegia a escuta ativa e as visitas domiciliares, permitiu que as equipes escolares e as articuladoras comunitárias tivessem um contato mais próximo com as realidades dos estudantes, revelando contextos de sofrimento psíquico, ansiedade, depressão e outras condições que impactam o desempenho escolar e o bem-estar geral.
Impactos na Rede de Proteção
O relatório aponta que o programa gerou um impacto significativo na subjetividade dos profissionais, promovendo uma cultura de escuta, empatia e responsabilização compartilhada. Essa mudança de postura é essencial para lidar com questões de saúde mental, por “romper com o distanciamento técnico e promover uma cultura de escuta, empatia e responsabilização compartilhada”. Ao se depararem com as complexas realidades das famílias, os educadores e articuladores desenvolveram um olhar mais sensível e humanizado, fundamental para identificar e acolher casos de sofrimento psíquico.
Além disso, o Comunidades Educadoras contribuiu para a ampliação e qualificação da rede de proteção, articulando atores da escola, saúde, assistência social e outros equipamentos comunitários. Embora o relatório aponte fragilidades na articulação intersetorial em alguns municípios, a iniciativa demonstra o potencial de construir uma rede de apoio mais robusta para as famílias em situação de vulnerabilidade. A possibilidade de encaminhar casos para serviços especializados, mesmo que com limitações, representa um avanço importante na garantia do acesso a cuidados em saúde mental.
O Elo entre Família, Escola e Saúde Mental
Um dos achados mais relevantes do programa é a sua capacidade de tornar visíveis as realidades ocultas das famílias, incluindo situações de sofrimento psíquico. As visitas domiciliares permitiram que as articuladoras e equipes escolares compreendessem a dimensão do impacto da saúde mental na trajetória escolar dos estudantes. Em muitos casos, foi a partir da intervenção do programa que se iniciou o processo de busca por diagnóstico e tratamento para condições como autismo, TDAH, ansiedade e depressão. “A partir dessa visita, foi que a gente começou a correr atrás do laudo dele” , conforme registra o relatório sobre uma família atendida, evidenciando a importância da atuação direta do programa.
A ação também fortaleceu os vínculos familiares e escolares, resgatando o sentimento de pertencimento das famílias e abrindo canais de diálogo. Essa reaproximação é fundamental para a saúde mental dos estudantes, porque um ambiente familiar e escolar acolhedor e de apoio contribui significativamente para o bem-estar emocional. As mudanças observadas na postura dos estudantes, como o aumento do engajamento escolar e a melhora no comportamento, estão diretamente relacionadas ao acompanhamento mais próximo e ao suporte emocional oferecido pelo projeto.
Futuro da Saúde Mental na Educação
O relatório de avaliação de impacto do Comunidades Educadoras apresenta recomendações que se alinham diretamente com os objetivos do Setembro Amarelo. Entre elas, destacam-se:
- Fortalecer a Escola como Espaço de Identificação e Acolhimento das Demandas Sociais: Garantir espaços de escuta qualificada na escola e implementar parcerias com serviços de saúde mental da atenção básica e/ou universidades. Isso reforça a ideia de que a escola não é apenas um local de ensino, mas também um ponto de apoio para a saúde mental dos estudantes.
- Sensibilização e Mudança de Postura dos Profissionais: Investir em formações permanentes com foco em escuta qualificada e práticas de mediação de conflitos. Profissionais capacitados são essenciais para identificar sinais de sofrimento e oferecer o primeiro acolhimento.
- Intersetorialidade como Prática de Cuidado e Proteção: Instituir grupos intersetoriais permanentes e criar protocolos de contrarreferência entre os equipamentos de educação, saúde e assistência. A integração dessas áreas é fundamental para um atendimento completo e eficaz.
O programa Comunidades Educadoras no Rio Grande do Norte demonstra que a promoção da saúde mental no ambiente escolar é um esforço contínuo e interligado. Ao valorizar a escuta, a empatia e a articulação em rede, o programa não apenas atende às necessidades imediatas dos estudantes em situação de vulnerabilidade, mas também contribui para a construção de uma cultura de cuidado e prevenção em consonância perfeita com os princípios do Setembro Amarelo. A experiência potiguar serve como um modelo de como a educação pode ser uma ferramenta poderosa na promoção do bem-estar e na valorização da vida.
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