Apresentação

O presente relatório tem como objetivo registrar, descrever e refletir sobre as ações desenvolvidas ao longo do projeto Territórios Criativos, uma iniciativa voltada para o fortalecimento institucional, valorização das práticas culturais comunitárias e a promoção de redes colaborativas nos territórios de atuação. O projeto foi idealizado com o propósito de mapear, reconhecer e dar visibilidade às instituições culturais de base comunitária, acolhendo seus saberes, práticas e vínculos com os contextos locais.

Desenvolvido em duas etapas, o projeto procurou estabelecer uma ponte entre o reconhecimento do território e a construção de ferramentas para a autonomia e visibilidade das instituições participantes.

Etapa 1 – Mapeamento das Instituições e Regionais

A primeira etapa do projeto foi dedicada ao mapeamento das instituições baseado nos contatos iniciais obtidos a partir da leitura dos editais públicos dos anos de 2018 a 2024. O levantamento foi realizado de forma sistemática, visando compreender as características sociais, culturais e operacionais de cada grupo ou entidade.

Além da identificação geográfica, foi também observado o papel social que essas instituições desempenham nas comunidades em que estão inseridas, muitas vezes atuando como espaços de acolhimento, formação, expressão artística e fortalecimento da identidade local.

Através desse mapeamento, foi possível traçar um panorama diverso, composto por organizações com diferentes histórias, atuações e desafios, mas todas com um ponto em comum: o compromisso com o desenvolvimento cultural de base e o fortalecimento do tecido comunitário.

Metodologia Utilizada

A metodologia utilizada para o mapeamento das entidades e expressões culturais do município de Contagem foi cuidadosamente elaborada para garantir uma abordagem abrangente e inclusiva. As etapas do processo incluíram:

Resultados Obtidos

O mapeamento resultou na identificação de diversas entidades e expressões culturais em Contagem. Os principais resultados incluem:

Entidades Culturais Mapeadas: Por meio dos editais, foram identificadas mais de 400 entidades culturais, abrangendo grupos de dança, teatro, música, artesanato, grupos tradicionais, entre outros. Durante o processo de cadastramento, foram realizados 448 registros. Importante destacar que do total de registros do banco de dados, 125 entidades e demais iniciativas culturais efetivamente realizaram o cadastramento junto à equipe de pesquisadoras ou pelo link disponibilizado.

Dessa forma 323 informações foram coletadas por meio dos editais e não foi possível confirmar as informações preliminares nem completar as que constam no formulário.

Análise de Dados

A análise dos dados coletados durante o mapeamento evidenciou que a cultura em Contagem é, de fato, rica e diversificada, refletindo uma ampla gama de expressões artísticas e culturais que envolvem diferentes segmentos da população. No entanto, essa riqueza cultural é acompanhada de desafios significativos que comprometem o potencial pleno dessas manifestações.

Um dos principais achados foi a constatação de que muitas entidades culturais operam de maneira autônoma e informal. Essa autonomia, embora demonstre a força do engajamento comunitário e a capacidade de mobilização dos grupos locais, também implica em vulnerabilidades. As entidades dependem frequentemente do apoio informal da comunidade, de parcerias pontuais e dos esforços individuais de seus membros para se manterem ativas, gerando incertezas quanto à sustentabilidade de longo prazo.

Além disso, identificou-se o desconhecimento e a desqualificação do corpo diretivo na elaboração de projetos competitivos para editais de cultura. A falta de capacitação técnica limita o acesso a financiamentos e resulta em subutilização do potencial criativo dessas entidades.

Ficou claro que a escassez de recursos financeiros, aliada à falta de capacitação, é um fator limitante para o fortalecimento da cultura local. Torna-se urgente a implementação de políticas públicas que promovam formação, acesso a recursos e redes de colaboração, garantindo que as vozes da comunidade sejam ouvidas e respeitadas.

Etapa 2- Criação dos Curtas

O levantamento que balizou a escolha das instituições participantes levou em consideração seu papel relevante nas comunidades em que estão inseridas, bem como sua importância no cenário cultural local. Observou-se, entretanto, que muitas dessas entidades, apesar de sua atuação consistente e impacto social, não participavam regularmente de editais públicos de fomento. Isso se devia, em grande parte, à falta de conhecimento técnico sobre os processos ou à dificuldade em lidar com as exigências burocráticas. Essa lacuna favorecia, de forma recorrente, instituições já renomadas, que possuem maior estrutura administrativa para competir em tais seleções. Assim, a escolha priorizou entidades com reconhecida atuação, mas historicamente pouco contempladas por editais, buscando democratizar o acesso aos recursos e fomentar a diversidade cultural.

Nesse contexto, o objeto de trabalho consistiu na elaboração de curta-metragem que abordasse a temática da cultura, com recorte construído a partir da atuação das instituições selecionadas. Foram escolhidas quatro entidades que, por meio do público atendido e das atividades realizadas, expressassem diferentes visões e manifestações da cultura local. O objetivo foi valorizar essas vivências e tornar visível a riqueza cultural presente nas comunidades, contribuindo para o fortalecimento de identidades e para o reconhecimento da cultura como direito e expressão da realidade social.

Como parte dessa fase, realizou-se um workshop online conduzido pela cineasta Vivian Moura, voltado às quatro instituições selecionadas. O encontro ofereceu suporte técnico e conceitual, auxiliando na construção de curtas com uso de celulares, a partir de suas próprias realidades. O formato favoreceu a autonomia dos participantes e aplicabilidade imediata dos conhecimentos.

O conteúdo da formação contemplou:

• Conceitos e tipos de documentário
• Construção do roteiro para documentário
• Elementos da construção da imagem
• Técnicas de captação e construção do som
• Etapas de uma produção audiovisual
• Processos de pré-produção, produção e pós-produção
• Noções de acessibilidade em produtos audiovisuais

Ao final, percebeu-se enriquecimento do repertório técnico e criativo das instituições. Elas demonstraram maior segurança na elaboração dos curtas, resultando em produções potentes, representativas e alinhadas às expressões culturais de seus territórios.

Na sequência, iniciaram-se gravações presenciais, entre 22 e 25 de abril, com suporte do Instituto Cultiva. Cada entidade recebeu a equipe com cordialidade, viabilizando ambiente propício às atividades.

As gravações transcorreram conforme o planejado; ofereceu-se suporte técnico contínuo, assegurando uso adequado de equipamentos e cumprimento do cronograma. Os encontros ocorreram nos seguintes locais:

Terça-feira, 22 de abril de 2025

Local: Parque Ecológico Thiago Rodrigues Ricardo – Coletivo 1,2,3 Contagem de Histórias

Reunião para averiguação do espaço destinado às ações do Territórios Criativos. Após análise conjunta, definiu-se filmar na instituição Lar Maria Clara por limitações de tempo.

Quarta-feira, 23 de abril de 2025

Local: Vale das Amendoeiras – Grupo Alvoroço

Registros sensíveis de práticas comunitárias resultaram em curta em formato de peça teatral, encenada por artistas e moradores, valorizando o teatro como linguagem de resgate cultural.

Quinta-feira, 24 de abril de 2025

Local: Vila Barraginha – Coletivo Três Graças

Captação de imagens com enfoque em arte-educação via grafite, mostrando muros como suportes da memória coletiva e valorizando narrativas urbanas muitas vezes invisibilizadas.

Sexta-feira, 25 de abril de 2025

Local: Centro Espírita Ilê Asé Igba Ogum

Bate-papo sobre espiritualidade, acolhimento e práticas tradicionais antecedeu as filmagens, refletindo como a matriz africana orienta ações sociais e culturais do Centro.

Essas visitas aprofundaram a escuta e fortaleceram vínculos. Em 2 de junho de 2025, realizou-se amostra final com todas as instituições, exibindo os curtas, promovendo diálogo com poder público e celebrando as políticas culturais territoriais. Estiveram presentes o Secretário de Cultura Ramon dos Santos, o Subsecretário Gilvan dos Santos, outras secretarias e a Comissão de Cultura. O evento encerrou-se com coffee-break coletivo, simbolizando acolhimento e celebração.

Considerações Finais

O mapeamento das entidades e expressões culturais de Contagem representa passo crucial para a valorização da cultura local, revelando não só a riqueza e diversidade presentes na cidade, mas também desafios a serem enfrentados para que essa cultura se desenvolva ainda mais. É um convite à reflexão sobre a importância da cultura como patrimônio coletivo, capaz de unir comunidades e promover identidades.

O Territórios Criativos reafirmou o valor das iniciativas culturais comunitárias e a relevância de políticas públicas que respeitem e fortaleçam a diversidade territorial. As etapas realizadas permitiram mapear e reconhecer, mas também criar espaços de escuta, registro e pertencimento.

Ficou evidente que o fortalecimento das instituições locais passa pela valorização de seus saberes e práticas, mas também pela construção de pontes com outras organizações, com o poder público e com a sociedade civil.

A continuidade desse tipo de iniciativa é fundamental para que os territórios criativos não sejam apenas mapeados, mas cultivados, apoiados e transformados em protagonistas das políticas culturais e sociais. A criação de redes de colaboração é estratégia poderosa: compartilha experiências, amplia oportunidades e fortalece o senso de comunidade entre artistas e gestores culturais.