Instituto Cultiva

Comunidades Educadoras consolida retomada da educação em Araraquara

Programa reconhecido internacionalmente pela Unesco, o Comunidades Educadoras implementa em março a premiada metodologia nas mais de 60 unidades da educação municipal de Araraquara. Com capacitações para toda a rede, visitas a famílias dos alunos e mobilização de frentes diversas do poder público, o programa consolida a retomada após o ápice da pandemia, quando o município registrou queda no número de frequência e matrícula escolares.

O Instituto Cultiva, responsável pela metodologia e pela implementação do programa, já realiza os trabalhos desde setembro. Fevereiro marca o fim da etapa do projeto piloto, na qual 15 escolas já receberam a metodologia e 90 famílias foram visitadas.

“A implementação do programa objetiva a criação de estratégias pedagógicas de busca ativa de estudantes, assegurando o direito à educação, especialmente àqueles propensos ao abandono e à evasão”, afirma a Secretaria de Educação de Araraquara.

O objetivo, segundo a pasta, é “assegurar a permanência e as condições de recuperar ou recomposição das aprendizagens em razão da pandemia da Covid-19, objetivando a mitigação e a eliminação dos obstáculos que impedem os avanços na aprendizagem”.

Representantes da Cultiva e da Secretaria Municipal de Araraquara apresentam Comunidades Educadoras
Reunião com representantes de secretarias e conselhos de Araraquara marca ampliação do Comunidades Educadoras (Elora Marques/Cultiva)

Além desse impacto imediato, o programa busca a efetivação do conceito Comunidade Educadora, com o desenvolvimento de redes de proteção e políticas públicas intersetoriais, cujos protagonistas são os próprios integrantes do território.

Como atingir esse conceito? Confira os detalhes ao longo desta reportagem.


Comunidades Educadoras em Araraquara

O programa consiste basicamente em três etapas. A primeira contempla a execução do projeto piloto, na apresentação do programa para toda a rede municipal e na formação dos articuladores comunitários.

Em Araraquara, já foram realizadas 90 visitas e até março estará finalizada a formação de 64 articuladores comunitários. Eles são os responsáveis por fazer as visitas a famílias dos alunos.

Após essas visitas, dados são gerados, analisados e encaminhamentos necessários são realizados.

Já estão em processo mais de 80 encaminhamentos necessários para casos considerados urgentíssimos, que envolvem alunos com sinais de fome, abandono, violência e depressão, entre outros.

“A segunda etapa é mais trabalhosa: quando são realizados efetivamente os encaminhamentos. Não é um pacote fechado, mas sim um estudo individualizado. Envolvemos atores do poder público, como Assistência Social, Conselho, Saúde, entre outros”, explica o presidente da Cultiva, Rudá Ricci.

A etapa termina com uma avaliação. “Começamos com o acompanhamento dos casos mais urgentes e, após três meses, fazemos a avaliação para saber o impacto dos trabalhos”, complementa Ricci.


Comunidade como protagonista

A última e terceira etapa é a consolidação do conceito Comunidade Educadora. “Depois da avaliação, fazemos os ajustes necessários e começamos com duas ações essenciais: descentralização do programa e transferência de tecnologia”, esclarece Rudá Ricci, doutor em Ciências Sociais pela Unicamp.

Mas o que é transferência de tecnologia na educação? “É um termo usado internacionalmente. Consiste em entregar a metodologia que desenvolvemos para os cidadãos de Araraquara”, explica o presidente da Cultiva.

Ou seja, serão criados comitês gestores territoriais ou regionais. Os dados gerados nas visitas serão encaminhados diretamente para os comitês.

“É a chamada governança social. Além de governantes e técnicos, quem participa e executa são os beneficiários do programa. Os objetivos são: errar menos, já que o beneficiário tem uma capacidade maior de identificar falhas com mais agilidade; e garantir a sustentabilidade do programa”.

Rudá Ricci fala durante apresentação do Comunidades Educadoras em Araraquara
Rudá Ricci fala para representantes de secretarias e conselhos de Araraquara (Elora Marques/Cultiva)

Ao fim do trabalho, previsto para ocorrer em até dois anos, as comunidades serão capacitadas e terão autonomia para fazer as atividades realizadas hoje pela Cultiva. “Eles vão gerir o programa mesmo sem a gente”, explica Rudá.


Quais famílias são visitadas?

O objetivo final é que todas as famílias sejam visitadas. “O programa continua sem a Cultiva e será construído o maior banco de dados escolar da história de Araraquara”, afirma Rudá Ricci, líder da equipe que desenvolveu a metodologia.

Até lá, uma média de 1,2 mil famílias serão visitadas mensalmente. “A gente define quais famílias serão visitadas inicialmente a partir de critérios de urgência e de comportamento e desempenho escolares. Exemplo: queda brusca de desempenho escolar nos últimos 12 meses, sinais de violência, infrequência, abandono…”, diz o presidente da Cultiva.

Se ocorre algum evento importante, como, por exemplo, uma inundação atinge a família de um aluno, eles são colocados no topo da lista. Ao longo do trabalho, o programa começa a ter vida própria, já que os articuladores e as famílias se engajam.

“É o que mais nos orgulhamos: quando a comunidade se apropria do programa”.


Cidade educadora

Centenas de técnicos participam nesta semana da capacitação realizada pela Cultiva. Reuniões com equipes de secretarias (Educação, Saúde, Assistência e Desenvolvimento Social), conselhos, gestores de estruturas educacionais são realizadas.

“No primeiro dia, por exemplo, dividimos 200 técnicos em grupos com gente da saúde, assistência, conselho e consultor da Cultiva. Eles pegaram um caso concreto que já levantamos em Araraquara e debateram como fazer o melhor encaminhamento – não isoladamente, mas trocando informações”, afirma Rudá Ricci.

Dinâmica com atores da educação realizada pelo Comunidades Educadoras em Araraquara
Dinâmica com representantes de secretarias e conselhos (Elora Marques/Cultiva)

E é justamente essa metodologia que ficará para Araraquara. A cidade já conta com a estrutura de territórios, o que ajuda na implementação desse conceito.

“Vamos ajudar no fluxo de comunicação, criar encaminhamentos e protocolos que agilizem a resposta e una as forças intersetoriais. Às vezes, um aluno tem um problema grave de saúde e o professor não sabe que ele já recebe atendimento médico, por exemplo”, diz Ricci.


OP Criança

Por fim, a Cultiva vai auxiliar no desenvolvimento do Orçamento Participativo Criança. “É um processo pedagógico no qual as crianças passam a aprender o que é orçamento da família, orçamento público, de onde vem receita”, afirma o presidente da Cultiva.

Araraquara é a sétima cidade atendida pela Cultiva, responsável por implementar o programa em Belo Horizonte, Conceição do Mato Dentro, Contagem e Sabinópolis, em Minas Gerais; além de Suzano (SP) e Teresina (PI).


Araraquara

Com mais de 230 mil habitantes, Araraquara possui uma rede municipal com 68 unidades escolares, segundo a gestão municipal: 46 de educação infantil, 15 escolas municipais, além de centros e núcleo.

“Em números gerais, a rede municipal soma 19.997 matriculados: são 9633 matrículas na Educação Infantil, 7426 matriculados no Ensino Fundamental, 274 na Educação de Jovens e Adultos e 2664 nos Centros de Educação e Escola Municipal de Dança”, afirma a secretaria.

São mais de 2,9 mil servidores municipais e a gestão é formada por Diretor, Vice-diretor e Professor Coordenador, além de contar com profissional técnico-pedagógico, o Assistente Educacional Pedagógico (AEP).

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